Produção de Mini-Tubérculos de Batata-Semente

por José Alberto Caram de Souza Dias

          O Brasil chega a produzir por ano, em três safras, cerca 2.500.000 toneladas de batata. A área cultivada anualmente é de aproximadamente 130.000 hectares. Os Principais produtores são os estados de Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Mesmo com a redução das lavouras em alguns anos a produção continua crescendo graças aos investimentos em tecnologia, variedades mais produtivas e particularmente na qualidade das sementes, onde a sanidade é fundamental.

          Quase 70% da batata-semente básica de alta sanidade utilizada no Brasil é importada, dependência que já foi bem maior em outras décadas. O País gasta por ano cerca de 5 milhões de dólares com a importação anual desse produto, o que corresponde entre 150 a 200 mil caixas. O Custo com a importação é alto. Cada caixa de batata-semente de mais ou menos 30Kg custa média de 25 dólares, dependendo da variedade.

          A demanda brasileira por batata-semente é de 500 mil caixas por ano. O Brasil depende da batata-semente importada principalmente de países da Europa e América do Norte, onde há grande oferta de novas variedades e além disso, possuem condições agroclimáticas que propiciam alta sanidade, particularmente no que se refere à ausência das viroses mais comuns e degenerativas da batata-semente. No hemisfério norte, o inverno é rigoroso e portanto diminui a presença de pulgões, insetos transmissores dessas viroses, possibilitando que antes das primeiras revoadas desses (principalmente as espécies de pulgão, mosca branca, trips) as planta em campo tenham atingido estádio de desenvolvimento suficiente para a aquisição de uma forma natural de resistência às viroses. Esse tipo de resistência é a denominada “planta madura”. Com isso, algumas plantações e variedades escapam da infecção ou translocação dos vírus para os tubérculos (batata-semente). Vale lembrar que esse comportamento agroclimático a favor da manutenção natural da sanidade da batata-semente produzida nos países do hemisfério norte pode estar comprometido. Pois,  com a realidade do aquecimento global, os invernos na Europa e nos Estados Unidos têm sido mais brando e os verões iniciados mais cedo e com temperaturas médias mais elevadas. Conseqüentemente, a visita (chegada) de insetos vetores de viroses aos batatais tende a ocorrer mais cedo nas plantações. Com isso, os insetos vetores se alimentando em plantas mais jovens, sem resistência de planta madura, tornam-se mais vulneráveis ao aumento de incidência de viroses nos tubérculos/batata-semente

          A batata-semente básica que não é importada é produzida no próprio país, mas na maior parte através do sistema de cultura de tecidos. Nesse caso, a reprodução é feita em laboratório, uma técnica cara (média de R$ 0,40 por plântula) e portanto não acessível a todos os bataticultores. Sabendo dessa dificuldade do setor, desenvolvemos através de projeto do Instituto Agronômico de Campinas em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa Agrícola - FUNDAG, uma técnica de aproveitamento dos brotos para produção de mini-tubérculos, utilizando com principal matéria-prima a batata-semente básica importada e livre das principais viroses, regulamentadas pela Instrução Normativa do Ministério da Agricultura (MAPA) sob Nº. 12, de 10 DE JUNHO DE 2005, D.O.U. de 14/06/2005 [Página 5]: PLRV (Vírus do Enrolamento das Folhas); PVY; PVX e PVS (Mosaicos Y, X e S, sendo os dois últimos geralmente latentes ou muito fracos na folhagem). Normalmente esses brotos são retirados e descartados (jogados fora mesmo). Fazendo o aproveitamento desses brotos, o produtor pode reduzir o número de importações, porque através do simples plantio, dentro de telados (anti-afídeos),   é possível produzir novos tubérculos,  também livre de vírus,  como os tubérculos-mãe, dos quais os brotos foram retirados. A vantagem direta é o aumento de quase 200% na taxa de produtividade de cada unidade de tubérculo/batata-semente.

Cultura de tecidos

 

Técnica de aproveitamento dos brotos. Tubérculos de batata-semente importados, classe básica, livre de vírus, em processo de brotação. Cada botinho plantado pode se tornar uma planta e produzir de 2 a 4 mini-tubérculos de alta sanidade.

          O tubérculo/batata-semente importado se for diretamente plantado em campo, como se faz normalmente, a taxa de multiplicação é em média de 1 para 10, ou seja, cada batata-semente (tubérculo-mãe) produz 10 tubérculos (filhas). Com o simples ato de desbrotar o tubérculo-mãe,  o bataticultor consegue pelo menos o dobro da taxa de multiplicação, isto é, 20 tubérculos. Isto porque cada broto, retirado da batata-semente importada vai se desenvolver e gerar novos tubérculos. Além disso, cada batata-semente tem capacidade de até três rebrotas sucessivas, mas para isso é preciso que a batata-semente esteja acondicionada corretamente em uma câmara fria, com temperatura favorável (4ºC e 82% de umidade) por mais de 6 meses, dependendo da dormência de cada cultivar (ex.: Ágata é mais precoce do que Cupido e Monalisa).

          O sistema de plantio de aproveitamento dos brotos como propágulo (“semente”) é bastante simples. Os brotos devem ser plantados em substrato, do tipo recomendado para mudas de hortaliças, no qual há incorporação de fertilizantes, complementados por fértil irrigação durante o ciclo. Como alternativa ao substrato, pode-se plantar em terra virgem, com boa aeração, previamente submetida à solarização. No caso de terra virgem, antes de plantar, o agricultor deve colocar uma colher de chá de adubo da fórmula 4-14-8 para cada 0,2 litros de terra, o que equivale a 1 copo de água. É preciso mexer bem para que o adubo seja bem incorporado em cada vasinho. Depois, o produtor deve umedecer bem a terra. Somente após bem umedecida a terra é que se passa a plantar os brotos destacados dos tubérculos/batata-semente importados. Os brotos devem ser plantados com pelo menos 2 gemas axilares dento e bem aderido à terra ou ao substrato úmido. A pontinha do broto deve ficar para fora (uma gema axilar é suficiente). O número de brotos a serem plantados por vaso está em função do tamanho desse vaso ou contêiner. Vasos de 20 cm de largura x 15-20 cm de altura e 20 cm de base, comportam até 4 brotos. Nas bandejas de 40x60cm com 24 cavidades (vasinhos), conforme mostram as fotos abaixo, têm dimensões de 10 x 10 x 5 cm e comportam bem até dois brotos cada. A maior densidade de brotos reflete diretamente no maior número de mini-tubérculos/contêiner. Quanto maior o número de mini-tubérculos, menor o tamanho dos mesmos. O Broto ideal apresenta de 4 a 6mm de diâmetro e de 3 a 5cm de comprimento. Mas mini-tubérculos, mesmo menores, são suficientes para bom desempenho como batata-semente quando plantados em campo (canteiros com covas rasas, chegando a produzir de 4 a 9 outros tubérculos (filhas), dependendo do tempo de quebra de dormência dos mini-tubérculos (6 a 7 meses em câmara fria seguido de 1 a 2 meses dentro de ambiente escuro, com balde de 20 litros de água por 8 m3 e temperatura de 18 a 22oC).

Plantio dos brotos para obtenção dos mini-tubérculos

          Por ser simples, barato e gerar boa rentabilidade a produção de mini-tubérculos através do aproveitamento dos brotos da batata-semente tem despertado o interesse de vários agricultores e essa nova técnica de produção já é realidade para muitos.


 

Para maior detalhamento da técnica de produção de mini-tubérculos adquirida o vídeo produzido pela FUNDAG com o Dr. José Alberto Caram de Souza Dias.
                          FUNDAG


 

Dr. José Alberto Caram de Souza Dias, é Pesquisador Científico VI da APTA- Instituto Agronômico – IAC. Atua desde 1978 na área de viroses da batata aplicada à produção de batata-semente livre de vírus. Formado em engenheira agronômica na Faculdade de Agronomia e Zootecnia “Manoel Carlos Gonçalves”, Espt. Sto. Pinhal-SP, em 1977; curso de especialização em Bataticultura no Centro Internacional de Agricultura, em Wageningen, Holanda, em 1982; mestrado na Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz - USP, 1984; doutorado na Universidade de Wisconsin – Madison, 1988; pós-doutorado na Universidade de Cornell, Ithaca, Nova York, 1997,
Contato: jacaram@iac.sp.gov.br


 

Reprodução autorizada desde que citado o autor e a fonte


Dados para citação bibliográfica(ABNT):
Dias, J. A. C. S. Produção de mini-tubérculos de batata-semente
. 2006. Artigo em Hypertexto. Disponível em: <http://www.infobibos.com/artigos/2006_3/minituberculos/index.htm>. Acesso em:


Publicado no infobibos em 16/11/2006